Notícia

Novo tratamento para a malária demonstrou eficácia de quase 100% em estudo de Fase II

Medicamento contra o câncer reaproveitado para tratar a malária demonstrou eficácia de quase 100% em estudo clínico de Fase II realizado por equipe internacional de pesquisadores

Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH)

Fonte

Universidade Purdue

Data

quinta-feira, 2 setembro 2021 06:30

Áreas

Doenças Infecciosas. Farmacologia.

Um medicamento contra o câncer reutilizado para tratar a malária demonstrou ser quase 100% eficaz em ajudar a derrotar a doença em apenas três dias, de acordo com resultados de estudo clínico de Fase II. Os resultados  foram publicados na revista científica Journal of Experimental Medicine.

O estudo mostra que a adição do medicamento Imatinibe à terapia habitual da malária permite a eliminação de todos os parasitas da malária em 90% dos pacientes em 48 horas e em 100% dos pacientes em três dias, disse o Dr. Philip Low, pesquisador na área de Química da Universidade Purdue, nos Estados Unidos, e um dos líderes da equipe internacional de pesquisa. Os pacientes que receberam Imatinibe também tiveram alívio de suas febres em menos da metade do tempo experimentado por pacientes semelhantes tratados com a terapia padrão.

“Em nosso estudo, 33% dos pacientes tratados com a terapia padrão (mas sem o suplemento de Imatinibe) ainda sofriam de parasitemia significativa após três dias. As taxas de eliminação atrasadas são um precursor e um indicador da resistência potencial aos medicamentos, que tem sido um problema da malária há décadas. Então, isso pode ser significativo”, disse o Dr. Low.

O imatinibe foi originalmente produzido pela Novartis para o tratamento de leucemia mieloide crônica e outros tipos de câncer. Ele age bloqueando enzimas específicas envolvidas no crescimento do câncer.

“Quando descobrimos a capacidade do Imatinibe de bloquear a propagação do parasita em hemoculturas humanas em placas de Petri, iniciamos um ensaio clínico humano em que combinamos o Imatinibe com o tratamento padrão (piperaquina mais diidroartemisinina) usado para tratar a malária em grande parte do mundo. O estudo clínico de Fase 2 descrito no artigo compara o tratamento com Imatinibe mais o tratamento padrão. Não testamos o Imatinibe sozinho, porque seria antiético tratar pacientes que sofrem de uma doença potencialmente letal com uma terapia não testada”, explicou o pesquisador.

A malária infecta os glóbulos vermelhos humanos, onde se reproduz e, eventualmente, ativa uma enzima dos glóbulos vermelhos que, por sua vez, desencadeia a ruptura da célula e a liberação de uma forma do parasita chamado merozoíta na corrente sanguínea. O Dr. Philip Low e seus colegas teorizaram que, ao bloquear a enzima crítica dos glóbulos vermelhos, eles poderiam parar a infecção. Os dados do estudo da droga confirmam isso.

O Dr. Low disse que, nos últimos 50 anos, os tratamentos da malária têm usado medicamentos que visam o próprio parasita, mas o microrganismo acabou desenvolvendo resistência aos medicamentos.

“Como nosso objetivo é uma enzima que pertence ao glóbulo vermelho, o parasita não pode sofrer mutação para desenvolver resistência – ele simplesmente não pode sofrer mutação nas proteínas de nossas células do sangue. Esta é uma abordagem inovadora que se tornará uma terapia que não pode ser evitada pelo parasita no futuro. Isso constituiria uma importante contribuição para a saúde humana”, destacou o cientista.

A malária é causada por um parasita unicelular, o Plasmodium, que é transportado por mosquitos. A Organização Mundial da Saúde estima que a doença causou 409.000 mortes em 2019 (o ano mais recente para o qual há dados disponíveis). A OMS também observa que 67% dessas mortes ocorreram em crianças menores de 5 anos.

A forma mais letal do parasita é o P. falciparum e, embora a maioria das mortes por malária ocorram na África Subsaariana, uma variante do P. falciparum que está desenvolvendo resistência aos medicamentos se estabeleceu no Sudeste Asiático, particularmente no Camboja, Mianmar, Tailândia, Laos e Vietnã. Em algumas regiões da área, até 80% dos parasitas da malária são, pelo menos parcialmente, resistentes aos medicamentos.

Embora a malária não seja uma doença significativa na América do Norte, o Dr. Low está planejando solicitar a aprovação da da agência reguladora Food and Drug Administration (FDA) dos EUA. “O FDA é tão amplamente respeitado em todo o mundo que, se aprová-lo, quase todas as outras nações, especialmente os países em desenvolvimento que sofrem de malária, o adotarão rapidamente. Os requisitos da FDA para a aprovação da Fase III são muito rigorosos. Você tem que demonstrar a eficácia e segurança da combinação de drogas em uma grande população de pacientes e, em seguida, mostrar que você pode fabricar e armazená-la com segurança e reprodutibilidade. Você também tem que começar do zero e acabar com um produto que é mais de 99% puro”, disse o pesquisador.

“Vamos entregar a tecnologia a qualquer empresa comprometida em distribuí-la em áreas infestadas de malária. Não estou interessado em ganhar um centavo com isso. Eu só acho que é importante para a humanidade [ter o tratamento]”, concluiu o Dr. Philip Low.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade Purdue (em inglês).

Fonte: Steve Tally, Universidade Purdue. Imagem: Micrografia eletrônica de varredura colorida de glóbulo vermelho infectado com parasitas da malária, ao centro. À esquerda estão glóbulos vermelhos não infectados, com uma superfície lisa e vermelha. Fonte: Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH).

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