Notícia

Quebrando barreiras para a cura da AIDS

Estudo internacional revelou uma descoberta inesperada que poderá levar a melhores terapias para reduzir o reservatório de HIV, uma grande barreira para o desenvolvimento de uma cura para a AIDS

Pixabay

Fonte

Universidade da Cidade do Cabo

Data

sexta-feira, 8 novembro 2019 12:55

Áreas

Virologia. Imunologia. Biologia.

Os tratamentos antirretrovirais amplamente disponíveis podem suprimir o HIV e, na maioria dos casos, impedem as pessoas de desenvolverem a síndrome da imunodeficiência (AIDS). Eles podem reduzir a carga viral de uma pessoa até o ponto em que seja indetectável com testes padrão.

Mas a terapia não pode erradicar o vírus, que persiste em reservatórios no DNA das células imunológicas. O HIV codifica-se no DNA de milhões de células imunes CD4, apenas aguardando a oportunidade de se replicar caso o tratamento antirretroviral seja interrompido. A dinâmica de como esse reservatório se forma, no entanto, ainda era desconhecida. Os cientistas pensaram que ele se formava continuamente durante a infecção, antes do tratamento. Agora, os cientistas têm evidências genéticas de que esse não é o caso e que o início do tratamento antirretroviral pode estar alterando a biologia do sistema imunológico humano de forma a permitir que o reservatório de HIV se forme ou se estabilize.

“Esperamos que a redução do tamanho do reservatório nos leve um passo em direção ao objetivo de permitir que as pessoas parem o tratamento sem o vírus se recuperar”, diz a Dra. Carolyn Williamson, chefe da Divisão de Virologia Médica da Universidade da Cidade do Cabo (UCT, da sigla em inglês), na África do Sul, que liderou o estudo em conjunto com o professor Dr. Ron Swanstrom, da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill (UNC, da sigla em inglês). A nova pesquisa resulta de uma colaboração entre pesquisadores da UCT, UNC e do Centro para o Programa de Pesquisa sobre Aids na África do Sul (CAPRISA).

Reservatório de HIV

Como esse reservatório silencioso do HIV pode persistir por muitas décadas, os pacientes devem permanecer em tratamento pelo resto da vida. Assim, este reservatório é um obstáculo fundamental para a cura. Mas, sem entender como ele se forma, há poucas chances de erradicá-lo.

Usando amostras de sangue coletadas de nove mulheres sul-africanas do estudo de coorte CAPRISA 002, a equipe de pesquisa iniciou uma pesquisa para compreender o momento da formação do reservatório de HIV.

Relógio genético

O HIV é um vírus que evolui muito rapidamente: é uma das entidades de evolução mais rápida conhecidas. Não apenas se reproduz rapidamente – em uma pessoa, o vírus pode produzir bilhões de cópias por dia – mas sua cópia genética também introduz mutações à medida que avança. Mas essas características do HIV também oferecem uma ferramenta para os pesquisadores mapearem uma linha do tempo da evolução do vírus.

Ao comparar a sequência genética do vírus no reservatório latente das mulheres com a sequência dos vírus ativos que circulam no sangue nos anos que antecederam o início do tratamento, os pesquisadores puderam obter uma indicação de quando o reservatório se formou.

Se as sequências virais do reservatório estivessem intimamente relacionadas com a dos vírus na corrente sanguínea no momento em que o tratamento começou, isso indicaria que o reservatório havia se formado naquele momento. Porém, se as sequências do reservatório fossem semelhantes aos vírus que circulam durante a infecção precoce e antes do tratamento, isso sugere que ele foi formado continuamente durante a infecção.

“Surpreendentemente, descobrimos que a maioria dos vírus no reservatório dessas mulheres – cerca de 71% – se assemelhava mais a vírus que circulam em até um ano após o início da terapia”, diz a principal autora do estudo, Dra. Melissa-Rose Abrahams, da Divisão de Virologia Médica da UCT. Isso sugere que as células imunológicas infectadas com o vírus no momento em que o tratamento começa mudam para um estado silencioso e semeiam o reservatório.

“Na África, a maioria das pessoas inicia a terapia durante a infecção crônica. A eliminação do reservatório nesses indivíduos foi considerada particularmente difícil devido à crença generalizada de que o reservatório se formava continuamente antes do início da terapia. Nossa descoberta inesperada de que grande parte do reservatório se origina na época do início da terapia oferece esperança de que possamos restringir a formação de reservatórios nesses indivíduos”, explica a Dra. Carolyn Williamson.

Da supressão à cura

Até o momento, houve apenas dois casos em que as pessoas foram curadas do HIV, um em Berlim e outro em Londres. Isso só foi possível devido a circunstâncias excepcionais não reprodutíveis para os 38 milhões de pessoas infectadas pelo HIV em todo o mundo.

“Esta descoberta aponta para uma oportunidade de intervenção. Se conseguirmos uma intervenção biológica para reduzir o número de células infectadas em transição para latência no momento do início do tratamento, é possível que possamos restringir o estabelecimento da maior parte desse reservatório viral”, argumenta a Dra. Melissa-Rose.

Os pesquisadores estão agora explorando a ideia de que o início do tratamento antirretroviral amortece o sistema imunológico humano, reduzindo a presença do HIV ativo. Isso faz com que as células imunes onde o vírus está incorporado tenham mais probabilidade de se transformar em células de memória de vida longa – que podem, em última análise, constituir grande parte do reservatório viral de longo prazo.

Os resultados foram publicados na revista científica Science Translational Medicine.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade da Cidade do Cabo (em inglês).

Fonte: Lisa Boonzaier, Universidade da Cidade do Cabo. Imagem: Pixabay.

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